Recife
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À medida em que migramos as atividades cotidianas para a Internet, a prática de direitos políticos é afetada. Nos reunimos e nos associamos através de meios digitais - tal como fóruns e aplicações de mensagem - e exercitamos atividades fundamentalmente democráticas. No entanto, plataformas e agências governamentais monitoram como e com quem nos reunimos e associamos. O workshop pretende abordar o direito à reunião e assembléia online tendo em vista as práticas de coleta de dados e vigilância.
O painel abordará o direito à reunião e assembléia - direitos humanos pouco abordados nas agendas de privacidade e liberdade de expressão, porém diretamente afetados pela violação destes. Irá questionar de que forma as TICs potencializaram as formas de reunião e assembleia, aproximando os cidadãos da prática política e facilitando a tomada de decisões cidadãs. Por outro lado, o painel irá mapear os desafios encontrados com a intermediação desses espaços por empresas privadas, bem como irá pôr em perspectiva a interferência estatal no direito à reunião e assembléia em razão do aprofundamento da vigilância online. Assim, buscará refletir sobre os impactos à democracia e ao exercício de direitos políticos diante da realidade das práticas de reunião e assembleia online.
Os elementos que serão abordados dizem respeito a projetos de lei e legislações existentes que protejam ou impactem o direito à reunião e assembleia, bem como políticas públicas. A título de exemplo, por um lado, o Marco Civil da Internet, o Decreto nº 8771, a LGPD, a Constituição Federal, a Convenção Interamericana de Direitos Humanos. Por outro lado, teremos iniciativas como a Lei Antiterrorismo, a Lei de Interceptações e os Projetos de Lei 9.808 - sobre interceptações e criação de acessos excepcionais plataformas de criptografia - bem como o Projeto de Lei nº 6960/2017 - o qual procura afastar a necessidade de ordem judicial para acesso a dados pessoais por parte de autoridade policial. O painel irá abordar, para além da interceptação, a coleta de metadados, informações centrais para a construção de perfis e narrativas baseadas em padrões de contato entre pessoas ou grupo de pessoas.
Por fim, será buscada a contextualização desse panorama com a crise inaugurada pelo Coronavírus, tendo em vista o acentuamento da migração das atividades para o ambiente remoto/online, tal como as atividades políticas, e, consequentemente, a multiplicação de práticas público-privadas de monitoramento.
Capacidades de comunicação potencializadas pelas TICs ocasionaram a migração de atividades cotidianas para o ambiente online. Se mais conexões pessoais, econômicas, sociais e políticas se formaram, alguns fatores contribuem para o surgimento de novas fragilidades para a garantia de direitos.
A arquitetura da rede permite a identificação de usuários e de suas associações com outros grupos de usuários. Rastros em forma de dados e metadados são produzidos, permitindo a exploração dessas informações por diversos stakeholders. Os modelos de negócio representados pelas big tech se estabeleceram de forma que a privacidade foi amplamente relativizada, comprometendo a autodeterminação informativa sobre comportamentos online. Práticas governamentais, por fim, perseguem, cada vez mais, o monitoramento dos usuários, mapeando grupos de interesse e criando narrativas que incriminam movimentos políticos, suas práticas de reuniões e assembléias.
As ameaças dão resultado a uma movimento de buscas por tecnologias de fuga aos mecanismos de vigilância, tal como plug-ins, VPNs, criptografia, redes de anonimato ou mesmo afastar smartphones do ambiente em momentos de reuniões sensíveis. O crescimento da suspeição e desconfiança com a rede minam o potencial de construção política e democrática, bem como a proposta emancipadora inicial da Internet, esvaziando as possibilidades de construção multissetorial caras à Governança da Internet.
O cenário ganha relevância com a legitimação de políticas público-privadas de monitoramento de aglomerações no contexto do Coronavírus. Acordos entre empresas de telecomunicações e o MCTIC ou entre a empresa In Loco e algumas Prefeituras, foram construídas por acordo bilaterais e sem participação da sociedade civil. Até que ponto um estado de exceção justifica práticas pouco transparentes de contact tracing? O que significa mapear a geolocalização para o legítimo direito de reunião e assembléia online? São perguntas que serão endereçadas pelo pelo painel.
A proposta é de mesa redonda, facilitando a troca entre os participantes. O moderador terá 5 minutos iniciais para apresentação e contextualização.
Os expositores terão 15 minutos cada para endereçar as seguintes questões:
(i) Quais são os standards legais, nacionais e internacionais - considerando os Princípios para o Uso de Governança da Rede do CGI.br - bem como as boas práticas tecnológicas, que fundamentam e protegem o direito de reunião e assembléia online?
(ii) Da observação das políticas de Internet mapeadas no Brasil, quais práticas privadas e governamentais, de uma perspectiva social e política, afetam o direito à reunião e assembleia online? Quais os impactos desse cenário para uma sociedade democrática e para a construção de confiança na rede?
(iii) Quais as recomendações, à nível técnico e legislativo, para a efetivação do exercício dos direitos políticos associados à privacidade e liberdade de expressão, tal como o direito à reunião e assembléia?
Primeiramente, os 25 minutos finais do painel serão destinados ao engajamento e intervenções do público, que poderão ser em formato de perguntas ou provocações e colaborações. Pretende-se fazer duas rodadas de intervenções, seguidas de réplicas dos expositores.
Durante a apresentação dos expositores, pretende-se aproveitar as redes das entidades participantes para promover o painel e a interação online, tal como no Twitter, Instagram e Facebook, na busca pela potencialização da comunicação com o público alvo de cada entidade, seja público, privada, acadêmico/científica ou social. Será buscada a ativação de uma hashtag criada especificamente para o painel.
As participações remota e presencial serão tratadas de forma indiscriminada, de forma que as contribuições sejam coletadas alternadamente.
Espera-se que o encontro dos diferentes setores catalise um espaço de reflexão crítica acerca da importância da garantia do direito à reunião e assembléia, especificamente no ambiente online. Pretende-se contribuir com propostas e padrões legais para fortalecimento dos direitos políticos, sobretudo em períodos de “políticas de exceção”, tal como as legitimadas pela crise do Coronavírus. Espera-se contribuir com ponderações sobre a crescente adoção de tecnologias de monitoramento e geolocalização, sob o prisma do exercício político democrático e levando em consideração as perspectivas dos diversos setores da sociedade.
Espera-se, igualmente, poder compartilhar com o público dados atualizados sobre o tema, provenientes de pesquisas dedicadas realizadas pelos debatedores convidados e, por fim, a ampliação do interesse público sobre o tema, com o fomento de informações necessárias no processo de construção de políticas públicas e regulações futuras.
UF |
PE |
Organização |
IP.rec - Instituto de Pesquisa em Direito e Tecnologia do Recife |
Setor |
Comunidade Científica e Tecnológica |
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Diretor do IP.rec - Instituto de Pesquisa em Direito e Tecnologia do Recife. Mestrando em Ciências da Computação do CIn-UFPE. Bacharel em Direito pela UFPE. Google Policy Fellow na ONG Derechos Digitales
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Organização |
Derechos Digitales |
Setor |
Terceiro Setor |
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Jamila Venturini é jornalista, ativista de direitos humanos e desde 2009 pesquisa temas de tecnologia e sociedade. Atualmente é coordenadora regional na Derechos Digitales, organização latino-americana que luta pelo desenvolvimento, defesa e proteção dos direitos humanos no amiente digital. É membro do Intervozes e da Rede LAVITS.
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Empresarial |
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Mônica Rosina é Public Policy Manager do Facebook no Brasil. Professora da Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas. É doutora em Direito Internacional e Comparado pela Universidade de São Paulo.
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UF |
PB |
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PT-RN |
Setor |
Governamental |
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Senadora e Presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática
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UF |
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Organização |
Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social |
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Nataly Queiroz é jornalista, especialista em Ciência Política e doutora em Comunicação. É professora universitária e integrante do Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social. Pesquisa tecnologias, democracia e movimentos sociais.
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IP.rec - Instituto de Pesquisa em Direito e Tecnologia do Recife |
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Comunidade Científica e Tecnológica |
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Pesquisadora do IP.rec. Graduada em Direito pela UFPE, com intercâmbio na Universidade de Hamburgo. Alumni da Escola de Governança da Internet. Trabalhou junto ao Secretariado do Internet Governance Forum na ONU.
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UF |
SP |
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Escola de Ativismo |
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Terceiro Setor |
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Violeta Assumpção da Cunha é graduada em Jornalismo - Comunicação Social pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Atualmente trabalha para Escola de Ativismo como integrante do Núcleo de Cuidados Digitais e desenvolve atividades como facilitadora de processos de aprendizagem na área de Segurança da Informação para grupos da sociedade civil.
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